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16/01/2012
Inseminação artificial em tempo fixo pode aumentar a produção de carne e leite


A inseminação artificial é muito pouco utilizada no Brasil, apesar da sua importância para melhorar o desempenho da pecuária. Uma das dificuldades é a identificação do momento exato do cio das vacas. O Globo Rural mostrou a técnica que pode melhorar o índice brasileiro. É a IATF: inseminação artificial em tempo fixo.

A fazenda Agrinduz fica no município de Descalvado a 250 km da cidade de São Paulo. É a segunda maior produtora de leite do Brasil. São 42 mil litros por dia. Para tirar todo esse leite, a sala de ordenha funciona 24 horas sem parar.

Ao todo são 1.300 vacas holandesas em lactação, produzindo média de 31 litros por animal por dia. O sistema é de confinamento e a comida é produzida com grãos cultivados pela fazenda.

O sucesso do empreendimento se deve principalmente ao melhoramento genético do rebanho que começou há 31 anos com a introdução da inseminação artificial. Uma técnica simples, mas que depende de um manejo prévio muito trabalhoso que é o da observação do cio das vacas. Como nessa fazenda não se usa touro, quem dá o sinal são as fêmeas.

A fazenda Agrinduz tem três funcionários encarregados de observar o cio das vacas. É por causa dessa operação complicada de ficar olhando o cio das vacas dia e noite sem parar que muitos produtores continuam usando o touro ao invés da inseminação.

Existe uma técnica que permite eliminar a observação do cio das vacas e facilitar o manejo da inseminação. É a IATF. Inseminação artificial em tempo fixo. Isso nada mais é que o uso de hormônios que induzem a ovulação da vaca e permitem a inseminação no dia que o produtor quiser.

Um dos hormônios é a progesterona, aplicada num dispositivo de silicone que é introduzido na vagina das vacas. Ele é colocado dentro de uma espécie de seringa gigante, feita de PVC, e fica preso em uma cordinha para que possa ser retirado a partir do 10º dia, quando o produtor já pode fazer a inseminação, como explica o médico veterinário Pietro Baruselli, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

Baruselli explicou que o sistema reprodutivo é regido por glândulas e a progesterona é um hormônio extremamente importante para fazer com que os folículos cresçam no ovário e tenham condição de ovular. O objetivo principal é ter esse processo de sincronização bem definido para que a inseminação possa ser realizada sem a necessidade de detecção do cio. Todas as vacas têm crescimento folicular e ovulação em dia e horário definidos. O hormônio utilizado não tem efeito algum sobre o leite que vai ser produzido e posteriormente sobre a saúde humana.

Gado de corte

Além de servir para o manejo da inseminação em gado de leite a IATF é utilizada também na criação de gado de corte. É o que o Globo Rural mostrou no município de Gaúcha do Norte, em Mato Grosso.

A fazenda Jaraguá faz cria, recria e engorda de gado nelore. Lá, o gargalo da inseminação artificial é a mão-de-obra da observação do cio. Por causa dessa dificuldade, os técnicos pensaram até em abandonar a inseminação artificial, mas com a aplicação da IATF eles mudaram de ideia.

Muitos bezerros que acabaram de nascer são filhos de vacas inseminadas com a técnica da IATF. Como elas receberam sêmen no mesmo dia, os nascimentos também aconteceram na mesma época. Isso padroniza os lotes e facilita o manejo na fase mais crítica da criação que é a da maternidade.

Na aplicação da IATF em gado de corte, a técnica é a mesma utilizada no gado de leite, o dispositivo e os hormônios também são iguais. O manejo e a época de fazer a aplicação é que mudam de acordo com o rebanho e o local onde é feita a criação. Em Mato Grosso, 35 dias após o parto, as vacas vão para o curral para receber os hormônios.

Vacas muito magras ou muito gordas não vão responder direito ao uso da técnica.

As que estão aptas recebem a primeira dose de hormônio injetável e depois são contidas para a colocação do dispositivo da IATF.

Feitos os tratamentos com hormônio, as vacas são liberadas para pastar, mas o lote tem que permanecer junto no mesmo piquete. Doze dias depois, todas voltam para o curral para a retirada do dispositivo e para receber o sêmen.

Antes da técnica da IATF, a fazenda Jaraguá inseminava no máximo 40 vacas por dia. Agora, eles inseminam até 600 animais num só dia.

Ayrton Leopoldino Neto, um dos donos da fazenda, mostrou o resultado da aplicação da técnica: bezerros filhos de vacas nelore que receberam sêmen de touros da raça aberdim angus.

Segundo ele, esta é a principal vantagem da IATF: a melhoria dos animais através do cruzamento com raças diferentes. “Esse lote com certeza vai ganhar peso muito mais rápido, sem a inseminação não conseguimos isso”.

Com a segurança de que a inseminação vai ser bem sucedida, tanto os criadores de gado de corte como os de leite podem investir mais na compra do sêmen. Isso possibilita, por exemplo, o uso de novas tecnologias como a do sêmen sexado, aquele que permite escolher o sexo dos animais que vão nascer.

 

Sêmen sexado

No caso da criação de gado de corte, o produtor deseja ter o maior número possível de machos, que ganham peso mais depressa. Para os produtores de leite, só as fêmeas interessam.

Para ver como se produz este tipo de sêmen, o Globo Rural saiu de Mato Grosso e voltou para São Paulo. Em Sertãozinho, funciona um dos maiores laboratórios de sêmen sexado do Brasil.

A grosso modo, uma máquina sofisticada funciona como uma balança que vai separando os espermatozóides mais pesados, que são justamente aqueles que vão gerar animais do sexo feminino.

O médico veterinário Péricles Lacerda confirma o nascimento de 85% de fêmeas, mas diz que o sêmen sexado ainda é muito caro, por isso eles só utilizam em fêmeas de primeira cria, que são mais férteis. ”É uma tecnologia bastante interessante, principalmente no sistema de produção de leite porque a gente reduz o custo da bezerra nascida, que é um custo alto”.

Fazendo inseminação artificial em tempo fixo, com touros de primeira linha, e escolhendo o sexo dos animais é tudo que os produtores precisam para aumentar a genética dos seus rebanhos e a produção de carne e leite. Para garantir a eficiência da IATF é bom contar sempre com a supervisão de um médico veterinário.

Fonte: Globo Rural - Adaptado Equipe Lapbov


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